quinta-feira, 30 de novembro de 2017

EL CHOCLO - O TANGO


                    ARRANJO DE ROLAND DYENS, INTERPRETADO POR TATYANA RYZHKOVA

                                            e VERSÃO CANTADA por NAT KING COLE ...


GATOS GORDOS E «RESPEITO» PELO DINHEIRO

                      


Vem esta crónica ilustrada com a foto acima, a propósito dos «gatos gordos» que enchem as notícias, que até me deixam uma lágrima ao canto do olho, quando penso nos seus imensos sacrifícios pela comunidade.
O caso mais «tocante» é o número de hoje do «O Público», que não esconde a sua intrínseca submissão, subserviência, ao falecido patrão. Claro que eu posso lamentar a morte de alguém e ser respeitoso para com os seus familiares e amigos. Mas fazer um ditirâmbico elogio fúnebre do personagem, apenas porque este era dono do jornal, mostra até que ponto a imprensa (toda ela!) está nas mãos de uns poucos «gatos gordos» os quais, dominando a imprensa, têm também o domínio das nossas mentes (numa larga medida) e portanto, têm os políticos na mão (e até «à mão»).

Aliás, os políticos todos, desde o «mais alto magistrado da Nação» até ao insignificante e anónimo deputado, têm de fazer um solene elogio fúnebre do personagem, como se todos nós fôssemos devedores da sua augusta obra, de construção dum império da grande distribuição...
Eu creio que as pessoas medianamente cultas sabem todas o mal que os hipermercados e grandes centros comerciais fizeram ao país, ao liquidarem o pequeno comércio de vizinhança.
Se não foram os causadores diretos da crise económica que assola este país - há tanto tempo - pelo menos, contribuíram para ela, tornando os cidadãos consumidores e produtores, reféns - a todos os níveis - do seu monopólio da distribuição.

Não me parece difícil de dizer umas frases bonitas quando se possui biliões, não é certamente difícil ter uns escribas sempre prontos a transcrever e propagar aos quatro ventos mediáticos a mais insignificante reflexão, quando se é dono de grande fortuna.

O poder corrompe e quando se atinge uma fortuna de uma determinada ordem de grandeza, como a dos Amorins, Belmiros, etc. é-se corruptor «por natureza». Exerce-se diretamente o poder, embora se tenha à mão uns fantoches disfarçados de políticos, de jornalistas, de «pensadores», para dar lustro e «autoridade» à sua procura insaciável de mais... mais dinheiro, mais poder, mais influência.

Ao fim e ao cabo, esta edição do «O Público», à altura do gabarito intelectual e moral da sua redação, tem a sua utilidade, pois serve para ilustrar a total e assumida relação incestuosa do poder financeiro com o poder da média corporativa...e de ambos com o poder político institucional.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A GRANDE BANCA EUROPEIA JÁ SABE O QUE AÍ VEM

Nós  - quase todos - somos vítimas da subordinação dos Estados à grande banca. Desde a crise/quase colapso de 2008, que tenho analisado as consequências das medidas que governos, bancos centrais e entidades financeiras internacionais, têm tomado. Todas estas entidades e instituições, por mais que digam que tais medidas se destinam a «sustentar a economia», mais não fazem do que sustentar a grande banca. 
Mas o processo tem limites inultrapassáveis: a impressão monetária ao infinito, seria adotada universalmente desde há muito tempo e o Zimbabué seria a mais sólida e próspera economia do Mundo, se essa estratégia tivesse o anunciado efeito de «sustentar a economia».
Porém, do outro lado, no interior dos edifícios envidraçados das sedes dos grandes bancos europeus e mundiais, não se deixam enganar pelas propagandas destinadas às massas. 
No caso da Société Genérale, um desses mega-bancos ditos «demasiado grandes para falharem», chega a anunciar o fecho de 300 agências e despedimento de 3450 empregados.  
                          

Mas porque fariam eles uma coisa destas, agora? Não é verdade que a economia europeia tem estado a melhorar paulatinamente desde 2009? 
- Eles sabem que a política de «quantitative easing» ou seja, de impressão monetária, a compra de obrigações do tesouro de países muito endividados, como a Grécia, Itália, Portugal, pelo BCE não  pode trazer senão uma enorme distorção do mercado. Ora, no capitalismo, se o mercado não funciona, nada funciona.
Temos de compreender o que sustenta o Euro: tem havido transferências massivas de dinheiro do norte para o sul da Europa, nomeadamente Portugal, Espanha, Itália e  Grécia. 
A crise do Euro, está toda ela contida na medida de conversão das dívidas prévias desses países em Euros, seguida de uma duplicação do valor do Euro. O sul viu-se a braços com uma dívida insustentável e para cumprir os compromissos exteriores, as suas economias sofreram um golpe brutal, que teve como consequência que as jovens gerações têm 60% de desemprego, nalgumas regiões. 
Esta «geração do milénio» tem sido a geração perdida, sacrificada, para satisfazer o poder de Bruxelas, a todo o custo, assim como os seus súbditos nos respetivos países do sul, fieis cumpridores dos decretos do império bruxelense. 
 Tanto a UE como o BCE são completos fracassos. O resgate da Europa do Sul criou uma pseudo-valoração do Euro e das obrigações soberanas denominadas em Euros, que não poderá sobreviver ao sopro de uma crise anunciada, mas cujo desencadear tem sido evitado... até agora. 
Os bancos europeus de grande dimensão sabem - melhor do que ninguém - qual o estado verdadeiro da economia da Europa e do Mundo. Eles tomam medidas preventivas de contenção de gastos, porque sabem que não irá haver expansão ou normalização da economia nos próximos anos. Estão já a tomar as precauções devidas. 
Todos os economistas sabem que é impossível a Grécia jamais pagar o que deve. 
Além disso, tornou-se claro que a Itália está no limiar de uma nova crise e  que as despesas do Estado Espanhol não estão sob controlo. 
Mas nada disso é tido em conta, na media «maistream»: eles especializam-se em dar uma imagem cor-de-rosa, «positiva», do descalabro da UE, porque estão visceralmente ligados ao «establishment» político e económico, na sua grande maioria. 
Vozes como a minha e como a de alguns analistas dispersos pela Internet, não terão - pensam eles - um efeito massivo de contrariar a narrativa dominante. Os oligarcas e seus lacaios pensam que a sua teia de mentiras nunca será desmascarada perante o grande público.
É nisso que eles apostam.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

CAMPANHA CONTRA A RÚSSIA ASSEMELHA-SE ÀS CAMPANHAS DE REGIMES FASCISTAS

Não só a célebre frase de Karl Marx de que «na História, as tragédias se repetem como farsas» é adequada ao contexto presente, mas chega a impressionar pela sua justeza.
Com efeito, o processo típico das ditaduras fascistas, da identificação do «inimigo»,  como sendo o comunismo ou os «vermelhos», como pretexto conveniente para desviar a atenção das massas, foi retirado do armário bafiento do MacCartismo... mas desta vez para «justificar» a completa falência da política, da diplomacia e até do uso da força pelo Império.

Os neocons, dominando grande parte do complexo de «espionagem-militar-industrial», viram que o logro do «islamismo radical» já não pegava, que a história do ISIL= ISIS=EI estava basicamente desmascarada. Foi a partir daí que começaram a socorrer-se do velho reflexo «anti-Rússia» criado e acarinhado durante as décadas de guerra-fria, em que a Rússia (soviética, claro) representava o «mal», o «inimigo». 

Poucas pessoas - no Ocidente - têm a coragem de dizer as coisas tal como elas são, um dos quais é o autor do blog «The Saker», outro o Dr. Paul Craig Roberts
Nem um nem outro, são ou foram jamais o que se poderá classificar como «esquerdistas» ou «de esquerda»; são conservadores e afirmam-no sem disfarce. 
Mas esta sua posição de denúncia da guerra de propaganda que - em geral - antecede uma guerra a quente, deveria ser escutada, pelas pessoas de todos os quadrantes, com a máxima atenção... 

Encontram-se na propaganda actual muitos traços típicos da propaganda de Hitler e de seus congéneres: esta propaganda era criminosa, sabemos nós, com efeitos devastadores. 
O tomar uma etnia inteira, uma nação, como «culpada» do mal, deslegitimar sistematicamente actos democráticos como a votação para retorno à Rússia da Crimeia (província russa, desde o século XVIII, tendo sido «dada» à Ucrânia, um dos Estados da URSS, por Nikita Krutchov, num acto perfeitamente arbitrário, em 1954) e ainda por cima usá-los como pretexto para um cerco e um bloqueio são acções propriamente de regimes fascistas. Mas não são menos a repressão do movimento democrático de independência da Catalunha, pelo governo de Madrid. Isso, não só não fez pestanejar a oligarquia de Bruxelas, como até mereceu os mais rasgados elogios destes e dos seus homólogos da UE! 
Atribuir os males, os falhanços nacionais à «conspiração» pró-russa, foi o meio que a oligarquia encontrou para aligeirar e distrair o eleitorado das pesadas responsabilidades de Hillary, no governo de Obama, o qual foi o mais belicoso presidente dos EUA de que há memória, por detrás do discurso de bem-sonante «pacifismo» (suficiente (!) para justificar um Nobel da Paz). Muitos consideravam que Hitler era o salvador da paz, após a conferência de Munique, pouco antes do mesmo ordenar a invasão da Polónia, que deu início à IIª Guerra Mundial.
As atitudes hostis por parte da NATO ou de forças dos EUA são quotidianas, mas têm a protegê-las um ecrã de fumo de propaganda, que não permite ao grosso das pessoas ver a realidade. As provocações junto das fronteiras russas são constantes e quotidianas. 
Fazem exercícios extremamente agressivos, tanto nestas fronteiras, como nas do seu aliado, a China.  Esperam que exista um deslize, uma falha, um erro, técnico ou humano: são abutres que esperam apenas por isso para a grande carnificina... e tudo isto, porquê?
Porque já estão esgotados os recursos para manter em funcionamento o capitalismo mais predador e mais ineficaz que jamais existiu. Cedo ou tarde, sem uma guerra mundial, os oprimidos irão exigir que a oligarquia preste contas: como eles não poderão mais proteger-se com as costumeiras mentiras, terão de inventar (antes que isso aconteça) uma monstruosa operação de falsa bandeira, mais monstruosa que a de 11 de Setembro de 2001.
É importante que as pessoas mais esclarecidas esclareçam as outras e ajudem assim a tornar a cidadania mais lúcida, em especial nos países onde estão situados os centros de decisão de onde têm partido as provocações com vista a acções belicistas.



segunda-feira, 27 de novembro de 2017

EDOUARD HONORÉ GANDON, PINTOR LUSO-FRANCÊS DO SÉCULO XX

Há alguns anos, construí um blog inteiramente dedicado à obra do meu tio-avô, o pintor Edouard Honoré Gandon

Os quadros reproduzidos abaixo são uma pequena amostra da sua arte. Foram pintados por volta de 1960, pertencem portanto à fase mais tardia da sua produção. 
Tal como outras obras, pode apreciá-las no citado blog, onde coloquei uma breve biografia «In Memoriam E. H. Gandon».



Pai, Luíz Manuel P. Monteiro Baptista

                                              
                                                   Eu, Manuel Banet M. Baptista


                                                    Mãe, Georgette Banet M. Baptista


                                                Avó materna, Marie Louise Gandon Banet


                                                 Avó paterna, Júlia P. Monteiro Baptista

                       Tio-avô, Edouard Honoré Gandon

Penso que vale a pena explorar o museu virtual que é o meu site do pintor Edouard Honoré Gandon
Ele foi notável na fidelidade ao seu próprio estilo, à sua própria maneira de pintar. 
Manteve-se completamente alheio às diversas vanguardas do século XX. 
A sua obra, mal conhecida e pouco divulgada, é porém a de um observador sensível da natureza e dos homens.  

Todas as informações sobre obras suas serão bem vindas. 

O sobrinho-neto
Manuel Banet Baptista

domingo, 26 de novembro de 2017

PLASTICIDADE CEREBRAL


Este documentário mostra como as propriedades de plasticidade do cérebro estavam sub-avaliadas pela ciência. 
Os primeiros passos desta nova visão da natureza e funcionamento do cérebro são revolucionários.
Se este conteúdo fosse profundamente compreendido pelas mais diversas pessoas, seria - não apenas uma mudança de paradigma nas ciências do cérebro, o que já está ocorrendo - uma mudança geral, na filosofia, na educação, em todos os domínios da vida humana.

sábado, 25 de novembro de 2017

[OBRAS DE MANUEL BANET] TRATADO DOS MISTÉRIOS*






o vazio

       infinito, infinitesimal
des – existência, potência
       paradoxos a-topológicos
intemporais
       circunscritos à medida
de todas as coisas
       que no universo vogam
entre espaços irreais
       o vazio está   ausente
a sua objectividade é
       uma perfeita negação
através dos percursos
       incontornáveis dos corpos
extensíveis ao infinito
       mas a física diz-te
que só o vazio proporciona
       à matéria transformar
       potência em acto
       libertando a energia que perdura
       no movimento
       dos corpos materiais
diz-te afinal que a trama
espacial-temporal está
tecida de matéria e de energia
que o próprio curso
do universo é expandir-se
ritmicamente no fluxar
através do vazio
transportando-se mais além
acima e abaixo
em todas as dimensões
e a todos os instantes
não! um corpo jamais
pode fazer o mínimo movimento
sem que o vazio
o permita   sua trajectória
é tão determinada
pela massa própria
pela massa dos restantes
corpos do universo
como pelo vazio
                circundante, envolvente
que define os corpos
sinta-se o braço
movendo-se na água
veja-se a fluidez
de uma interface
em que se interpenetram
as propriedades opostas
o duro e o mole
o veloz e o lento
o longo e o curto
o pequeno e o grande
tudo enfim que faça
parte do grupo
de conceitos bipolares
a absurda relatividade
do binómio matéria / energia
é tributária
da validação do vazio
este, verdadeiramente
une o positivo e
o negativo
o quente e o frio
sinal espiralar
das superfícies de Moebius
o facto de ser indizível
é uma barreira que pode
ser transposta no magno
mistério da abstracção.

como sonhos nos viriam
à memória se não
houvesse vazio
no intervalo dos neurónios
na rede das sinapses
dendrites e axónios
que penetram
a nossa substância
como se moveria
a ave no céu
e a nuvem caminharia
silenciosa
tranquila e sombria
ao sabor dos ventos
e do sol
e dentro de cada
nível quântico
entre duas configurações
energeticamente
distintas   a física
interdita todo o intermediário
e entre passado e futuro
a extensão passa para
limite   como presente
que o fluxo anula
para percorrer a via
do grande rio do tempo
        e a onda
associada á partícula
voga de ponto em ponto
por esse universo afora
até perfazer a circum-navegação
da sua curvatura

o vazio, portanto
enforma todos os corpos
dotados de substância
material de energia interna
de movimento e de vibração
a eles nos vamos
agora dirigir...

  



      a energia


é a condensação inicial
da energia do universo
num ponto encerrando
o todo e, para além
do qual, a extensão
se perde
quando a expansão
se deu a energia
foi decrescendo como
o quadrado da distância
até atingir o limite
do frio e do
congelar da luz
         irradia
em ondas infinitas
incansáveis caminhantes
dos espaços
à constante velocidade
da luz, mas cujo
comprimento de onda
é variável.
           
assim, da energia
em acto, emerge
o novo estádio
no processo de maturação
do universo
é no duplo sentido
potencial e actual
que te direi que
a energia se deve compreender
pois, nos diz a segunda lei
que um decréscimo
de energia livre
dispersa em entropia
uma parte de energia interna

se um movimento
se pode decompor
através das mudanças de estado
é porque existe uma diferença
de potencial
em termos formais
é o somatório dos vectores
energia potencial, trabalho
e entropia
e se o estado estacionário
se pode manter
num certo intervalo
de flutuação
é porque supera
o ruído de fundo

se em todo o universo
a energia total
fosse inconstante
de que servira apelar
para um equilíbrio estacionário
todos os valores
teriam a base modificada
constantemente
pela variação da matriz
espacial- temporal
a primeira lei diz-nos
que a energia total
num universo isolado
se mantém constante
embora se transforme
ou se converta
em diferentes formas
de energia
calorífica - cinética - potencial

mas essa energia
é conversível e poderá
ser convertida
em matéria
já que o quadrado
da velocidade da luz
é igual
à energia
e= MC²
porém o fotão é imaterial
eterno não será
porque em matéria
se pode converter
mas a onda associada
à partícula não se pode
delimitar e se irradia
constantemente.


       compreendemos que
a energia do fotão
seja igual ao produto da constante
de Planck pelo quociente
da velocidade fotónica
sobre o seu comprimento de onda




a matéria

mas a matéria consubstancia-se
em partículas
átomos
moléculas
em galáxias
e nebulosas
que vemos no céu límpido
de noite no hemisfério austral
a matéria está
associada á energia
que lhe permite
fazer uma ligação
entre duas partículas
dois átomos e
construir os níveis
molecular, macroscópico
e universal
pois a matéria
se associa e se dissocia
em todo o conjunto de corpos
que se queira
          e quando se anula
é para libertar
a energia que encerra
o fluir dos átomos
cria o espaço
e o tempo
e as suas trajectórias
são desviadas por forma
aleatória criando um
‘clinamen’, ou seja,
uma via divergente
o percurso acidentado
dos átomos permite-lhes
estabelecer encontros
e ligações entre si
que nós vemos
se complexificar
em proporção
do tempo decorrido
e os diferentes componentes
da matéria são construídos
em níveis sucessivos de complexidade
as coisas que se apresentam
aos olhos ou que se podem pesar
têm uma consistência material
segundo a nossa visão
mais comum
o átomo tem certos orbitais
disponíveis para estabelecer
e manter uma ligação
é por isso que podes
ver os objectos
com uma espessura
e com uma definida forma
essa organização
tem subjacente
a organização molecular
e atómica
as características
mais relevantes
na passagem
do microscópico
ao visível a olho nu
são
a densidade e a massa atómica
para que a matéria se possa
experimentar temos que
estabelecer uma forma
de avaliar as componentes
do sistema
o princípio da incerteza
dá-nos a desigualdade
fundamental
que nos proíbe
de aumentar a precisão
do momento de uma partícula
e determinar
com igual precisão
a sua energia potencial
nesse mesmo instante


 o espaço

no espaço se movem
os objectos e por estes
se delimita o espaço
não se pode medir
o espaço na ausência
de referente
a posição do observador
influi na sua visão do espaço
existe uma relatividade
que está associada aos
movimentos respectivos
dos objectos e do observador
se este se afasta
a velocidade próxima da
da luz dá-se uma contração
do espaço / tempo
os valores da medição de uma trajectória
no espaço
dependem
das coordenadas que se escolhe
para se avaliar
uma trajectória
é necessário definir
quais as dimensões do espaço
o espaço (euclidiano) a três dimensões
que usamos na nossa percepção
do mundo é apenas um dos espaços
possíveis
em que espaço se encontra
a anti-matéria?
   como conceber a forma
quadridimensional do continuum
espacial - temporal?
apenas em equações
podemos representar
adequadamente
um grande número de dimensões
pois se a reduzirmos
de uma dimensão
a descrição do movimento
perde precisão numa variável
uma dançarina
pode ser filmada
mas o filme projectado
não dá uma das dimensões senão
por ilusão de óptica
e não nos deixamos enganar
se pudermos observar
de lado, o écran
para nós é também evidente
que o sentido do fluxo
temporal é irreversível
pois um filme
passado o fim para o princípio
dá uma sequência
contraditória
com a nossa experiência
e não se pode
em física experimental
inverter impunemente
o sentido de uma qualquer
grandeza
e uma dessas grandezas
é o ...


          tempo


            ... é um conceito
de muito difícil compreensão
podemos falar do presente
mas este não é mais que um limite
entre o que já foi e
o que ainda não existe
...................................

o movimento

existe movimento
existe, porque há vazio
e porque há energia
a desprender-se
dos corpos
materiais




a vida


a vida está em todo o universo
o universo é um ser vivo e como tal
pode ser compreendido   não existe sentido
para a palavra vida se ela não for
entendida como uma grande lei do universo

as formas que convencionámos designar “vivas”
são fracções do grande organismo único

encerram as propriedades que as ligam
ao todo   e que são:  a ordem,
a eternidade, a transformação

a ordem    porque emergem como regularidades
e fluxos direcionais, gradientes e ritmos

a eternidade, porque derivam de formas
ancestrais que por sua vez derivam de
agregados moleculares eles próprios
tributários de arranjos específicos dos átomos
e assim sucessivamente

a transformação, porque não
 só contrariam
a tendência para a desorganização
refazendo constantemente as peças
com que são construídos, como
têm em si próprios a potencialidade
de aproveitar ocorrências ocasionais
para transformar suas estruturas

a sua continuidade só é mantida
pelas inovações que se vão introduzindo
adaptando-se às novas condições
do meio ambiente
corrigindo desequilíbrios
como funâmbulos que compensam
as oscilações da corda sobre a qual
se deslocam à custa de oscilações
compensadoras do seu corpo
e da vara
que seguram nas mãos

as formas mantêm o domínio
de si próprias
pelas leis internas que
resultam da sua complexidade
organizacional

o seu funcionamento permite-lhes
filtrar do exterior
aquilo que lhes traz
maior capacidade de resposta
conferindo-lhes autonomia

a autonomia consiste
em poder distinguir
o que lhes é próprio
do que lhes é estranho
tolerar variações ambientais
por vezes bruscas
graças a fronteiras
que estabelecem com o mundo
exterior
incorporar activamente
matéria, energia e informação
desse “não eu”
e transformar as zonas
que os circundam
por processos activos de trocas
de buscas
de construção paciente dos seus territórios
estabelecendo uma rede
densa de alianças
com outros seres
contribuindo para o equilíbrio
geral de todo o universo
em que estão inseridos

as leis gerais da Physis aplicam-se
aos seres vivos, sem exceção
no entanto, sobre essas leis
os viventes estabelecem
um controlo que lhes permite
superar os turbilhões
desintegradores das forças cegas
do espaço e do tempo
da matéria e da energia

o seu processo é análogo
ao de um homem que desce
o curso de um rio impetuoso
numa canoa, sujeito à força
avassaladora da corrente
mas guardando a direcção desejada
por pequenas remadelas
que compensam as turbulências

no final, acaba por deixar
virar o seu frágil esquife
quer porque está demasiado
cansado e perde os reflexos
salutares, quer porque
um redemoinho demasiado forte
se apodera inesperadamente
do barco e o engole 

[* escrito em 1985-86]